Quase duas décadas depois do lançamento dos cursos superiores tecnológicos no Brasil, ainda esbarramos todos os dias com conceitos e informações totalmente equivocadas a respeito deste importante segmento de formação. Primeiro a confusão que pessoas e até instituições de ensino e empresas públicas fazem na comparação entre cursos técnicos e cursos tecnológicos. Cursos técnicos são formações específicas e técnicas no nível médio de escolaridade que preparam profissionais para atividades práticas e operacionais do mercado produtivo. Cursos tecnológicos são formações de nível superior, com igual importância dos bacharelados e licenciaturas, que se concentram em uma área específica no mercado de trabalho. Outro conceito errado é dizer que os cursos tecnológicos foram criados para acelerar a entrada de profissionais no mercado por meio de seus períodos de duração mais curtos (entre 2 e 3 anos) em comparação com bacharelados e licenciaturas (4 anos ou mais). Esta menor duração não é uma característica fundamental dos cursos tecnológicos, mas sim uma consequência de seu real objetivo: preparar profissionais especialistas em uma determinada área do mercado de trabalho com responsabilidades acima das operacionais como gerenciais, de planejamento, de análises, etc..
Especificamente no eixo de gestão e negócios, que abrange várias áreas que são estudadas de forma não aprofundada nos bacharelados em Administração, durante todos estes anos ouvi muitas afirmações falsas originadas do desconhecimento dos fundamentos e da legislação dos cursos tecnológicos ou do desconforto sentido por alguns formandos do curso de Administração ao constatarem que cada curso tecnológico está em um patamar de formação e de especialização muito superior a cada área estudada em seu curso de formação. Cito aqui algumas dessas afirmações falsas as quais continuo ouvindo ainda hoje: "O curso tecnológico é um curso de 'mini-administração'."; "O tecnólogo é formado para ser um auxiliar do administrador."; "O curso de tecnologia não permite que seus formandos façam pós-graduação lato-sensu, mestrado ou doutorado".; "Curso tecnológico é um curso técnico melhorado"; "O curso de tecnologia não é considerado um curso de graduação, um curso superior"; "O Tecnólogo não pode ministrar aulas". Estas e outras inúmeras afirmações falsas a respeito de cursos tecnológicos dificultam a compreensão de sua importância no mercado de trabalho. O curso de tecnologia é um curso fortemente especializado em uma área definida e não é derivado de nenhum outro curso, mas sim de uma necessidade do mercado e da sociedade. O tecnólogo é um profissional que atua de forma independente de qualquer outra área de formação. O tecnólogo pode fazer qualquer pós-graduação que não exige uma formação superior específica, pode fazer mestrado, doutorado, pós-doutorado. O curso tecnológico se diferencia do curso técnico não somente pelo seu nível acadêmico (superior e médio, respectivamente) mas também na profundidade de sua especialização e nas atribuições que cada uma destas formações podem executar no mercado de trabalho. O tecnólogo pode ministrar aulas em sua área de formação, como qualquer outra formação superior.
Todo este esclarecimento que apresento é baseado no arcabouço de legislação que abrange os cursos tecnológicos e os seus profissionais formados no Brasil. Adicionalmente finalizo com algumas comparações entre os cursos tecnológicos do eixo de gestão e negócios e o bacharelado de administração no intuito de derrubar as afirmações falsas que mais me incomodam: aquelas que tentam minimizar os tecnólogos frente aos administradores. Citando alguns cursos tecnológicos no eixo de gestão e negócios, temos: Marketing, Recursos Humanos, Qualidade, Processos Gerenciais, e Logística. Todas estas áreas são estudadas também pelo Administrador em sua formação. Um curso de Administração possui uma carga horária mínima de 3.000 horas. Vamos considerar que metade dessa carga horária seja dedicada a estas cinco áreas. Logo, teríamos uma carga horária média, para cada área, no curso de administração, de 300 horas. Cada um desses cursos tecnológicos possui uma carga horária mínima de 1600 horas que é, quase toda, concentrada em sua área de estudo. Mesmo que somente metade desta carga horária seja dedicada exclusivamente à área do curso, teríamos um confronto de 300 horas de cada área no curso de Administração com 800 horas da mesma área no curso tecnológico, quase 3 vezes mais carga horária em relação ao estudo no curso de Administração.
Se por fim, você leitor, argumentar: "mas o tecnólogo é especializado em uma determinada área somente e o administrador em várias áreas!". Primeiramente, o administrador não é especializado em várias áreas. Ele estuda os fundamentos básicos de várias áreas e como elas se interligam em um grande sistema organizacional. A especialização é justamente o princípio do curso tecnológico para atuação em uma área específica dentro de uma organização. Isso não diminuiu, por outro lado, o administrador. É uma questão de escolha. Uma empresa pode precisar de um especialista em uma determinada área e terá tecnólogos para atendê-los. Ou pode precisar de um profissional com conhecimento sistêmico das organizações, sem especializações profundas em uma determinada área. Para este caso, os administradores estarão a disposição. Cada um no seu espaço.
Publicado em 05/04/2025 - Atualizado em 05/04/2025
Resumo gerado por IA:
Cursos tecnológicos no eixo de gestão e negócios não são fragmentos do curso de administração, mas especializações que o administrador não tem em sua formação.
Os cursos tecnológicos são formações de nível superior e não apenas cursos técnicos melhorados.
Existem várias afirmações falsas sobre cursos tecnológicos no eixo de gestão e negócios, como a ideia de que são cursos de "mini-administração" ou que tecnólogos são auxiliares de administradores.
Tecnólogos podem fazer pós-graduação, mestrado, doutorado e ministrar aulas em sua área de formação.
Na comparação da carga horária dos cursos tecnológicos no eixo de gestão e negócios com o bacharelado em administração, percebe-se que os cursos tecnológicos têm uma carga horária muito mais concentrada em suas áreas específicas.
A especialização dos tecnólogos não diminui a importância dos administradores, mas cada um tem seu espaço e função dentro de uma organização.