Fico bastante a vontade para fazer essa afirmação em epígrafe, pois sou formado em Administração e foi na prática que percebi isso, anos após a minha formação. A Administração não se justifica como um curso superior. Administração é uma competência, transversal a qualquer profissão. Comecemos por um primeiro argumento: todo curso superior possui um objeto principal de estudo. A Medicina possui como objeto de estudo a saúde humana, em suas dimensões físicas, mentais, psicológicas e sociais; a Contabilidade possui como objeto de estudo o patrimônio de uma organização; A Engenharia Civil possui como objeto de estudo o planejamento, projeto, construção e manutenção de infraestruturas físicas e naturais; o objeto de estudo de um curso de Licenciatura é a formação de professores em determinadas áreas. Quando pensamos qual seria o objeto de estudo da Administração, poderíamos arriscar algo como: a Administração possui como objeto de estudo o processo de gerir uma organização, ou seja, de planejar, organizar, dirigir e controlar recursos para atingir objetivos.
Mas vamos refletir: quem pode exercer o objeto de estudo da medicina? Somente médicos. Quem pode exercer o objeto de estudo da Contabilidade? Somente os contabilistas. Quem pode exercer o objeto de estudo da Engenharia? Somente os engenheiros? Quem pode exercer o objeto de estudo das Licenciaturas? Somente professores. E o objeto de estudo da Administração? Todos podem exercer em sua respectiva área! Um médico pode administrar um hospital, gerindo-o, planejando, organizando, dirigindo e controlando as suas operações para atingir objetivos. O mesmo faz o contabilista em sua área. O mesmo faz um engenheiro civil que dirige uma construtora. O mesmo faz um professor que se torna diretor de uma escola ou mesmo dentro de sua sala de aula.
Portanto, administrar é um conjunto de competências transversal a qualquer área. Muito além das organizações, administrar se estende às donas de casa que gerenciam exclusivamente seus lares, aos voluntários que gerenciam atividades de caridade, aos religiosos que administram suas igrejas, seus grupos.
Outro fator que temos que observar: se uma pessoa exerce a medicina sem ser médico, se uma pessoa assina os balanços contábeis de uma empresa sem ser contabilista, se uma pessoa se responsabiliza por uma obra sem ser engenheiro civil, se uma pessoa ministra aulas em uma escola sem ser professor, certamente haverá uma legislação ou um conselho profissional que irá intervir e essa pessoa poderá ser, em grande chance, condenada por exercício ilegal da profissão. Isso acontece com quem administra uma empresa ou qualquer outra coisa na vida sem ser administrador? Não! Não há legislação que proíba o médico, o engenheiro, a dona de casa de administrar alguma coisa.
A ideia de que o administrador é capacitado para gerenciar as diversas áreas funcionais de uma empresa, cai completamente ao solo quando vemos o crescimento e a importância dos cursos tecnológicos na área de gestão. Enquanto um estudante de administração possui, em sua matriz curricular, cerca de 120 horas exclusivamente em cada uma destas funções (Recursos Humanos, Finanças, Marketing, Produção...), um tecnólogo em uma destas áreas possui mais de 1.000 horas para se aperfeiçoar e formar-se. Então, o administrador não sabe muito de tudo em uma empresa como se pensa. Ele sabe um pouco de quase nada em uma empresa. Não por incompetência de seus estudantes, mas pela impossibilidade de se conhecer a fundo todas as funções das organizações em apenas 4 ou 5 anos. O tecnólogo, cada um na sua área, leva, ao menos 2 anos para se aprofundar.
Por fim, mas não menos importante, temos que considerar que cada formação é adequada ao perfil de quem a faz. Um estudante de Matemática possui certamente um perfil mais racional, voltado para pensamentos lógicos e matemáticos. Em outro extremo temos o estudante de Psicologia que deve ter um perfil muito mais analítico do comportamento humano, recorrendo em menor medida à racionalidade. Quando analisamos uma matriz de disciplinas de um curso de Administração, vemos os dois extremos: de um lado disciplinas como finanças, contabilidade, logística e, no outro extremo, comportamento humano, liderança e recursos humanos. Quando caí na realidade de que Administração não é formação, mas sim competência, compreendi porque raramente um profissional oriundo de um curso de Administração vai para o mercado buscando uma colocação, por exemplo e de forma indiferente, em finanças ou em recursos humanos, o que surgir primeiro. Raramente uma pessoa possui esses dois extremos de perfis (vide a teoria dos perfis psicológicos de Jung). Os formandos do curso de Administração ou ficam em um extremo das áreas mais racionais, mais matemáticas ou no outro extremo das áreas mais humanas.
Administrar não é formação, é competência. Se ainda considerarmos que é formação, teríamos que aceitar, visto o argumento anterior, de que o administrador, de certa maneira, forma-se "pela metade", cada um no seu perfil mais predominante.
Se você não é administrador, não tenha medo de ser um. Basta conhecer muito de uma determinada área, buscar a competência da administração e aplicá-la em sua área. Não é pecado nem ilegal!
Se ainda assim você não se convenceu, faça uma pesquisa: levante o número de administradores ("puros", sem nenhuma outra formação) que estão em cargos de direção em grande empresas e compare com aqueles que estão neste mesmo nível e que não são administradores, mas sim, formados na área da empresa que dirigem. Você irá se surpreender!
Publicado em 01/04/2025 - Atualizado em 01/04/2025
Resumo gerado por IA:
A administração é uma competência transversal a qualquer profissão, não se justificando como um curso superior.
Diferentes profissões possuem objetos de estudo específicos, enquanto a administração pode ser exercida por qualquer pessoa em sua área.
Não há legislação que proíba alguém de administrar sem ser administrador, ao contrário de outras profissões.
Na comparação da formação em administração com a formação em cursos tecnológicos na área de gestão, conclui-se que tecnólogos possuem mais horas de estudo em suas áreas específicas do que administradores.
Os perfis dos estudantes de administração variam entre áreas racionais e humanas, dificultando a formação completa em todas as funções de uma organização.
Administrar é uma competência, não uma formação, as pessoas devem buscar essa competência em suas áreas de atuação.